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Sunday, September 05, 2010

8- lx, a cruz de noventa, ou o primeiro x de lisboa, lis sb , aguia da cobra, co ob br ra, g rande

de novo os militares aqui a incendiar uma aldeia de palhotas, mais uma vez um mesmo eco, na historia da revista, o tal destacamento de infiltrados responsavel por as mais terriveis matanças, os flechas, como a dizer em suma, da presença de um mesmo personagem  que atravessa de alguma forma estas duas historias e dois tempos do mesmo tempo, cuja id se desvelou na analise do franzine

d e n ovo os militares aqui a inc en di ar uma l ad deia de pal h ota s, mais, fr,  uma v e zorro de um mesmo, é cona da historia da revista, o t a l d es taca em nt o de in fil t ratos ad os r es ponsa v el por as massi,  te r r ive is mat n aça s, os fl e cha s, c omo primeira di ze rem s u am, da pr es ença es de um mesmo pero sn a ge maior do q u e t ar vaso dessa cobra,  de al g u am forma e stas de duas das historias e do is te m ps o do mesmo tempo, cu j a id se d es velo u n a anal isa e do fr an z ine


como sabeis nao posso por aqui o video, pois um vhs me levaram daquei, e outro o foderam, deixo-vos portanto o guiao escrito deste documentario que teve tantos problemas , como aqui outrora o narrei, e que creio que tera sido tambem usado para me foderem na europa junto da bbc e de outros, publicarei tambem de seguida duas caratas que isso ilustram, ou seja mais uma vez os passes do ps para me foderem a carreira

c omo sabe is n cao p osso por aqui do circulo do io do v id deo, p o is um vaso  homem  serpente da me l eva vara aram da q u ei, e outro o fode ram, de ix o do traço ingles v os porta nt dp guia o es c rito deste doc ue m nt a rio q u e da teve , o de tantos porblemas , c omo a qui o u t r o ra on ar rei, é q u e c reio q u e teresa ra  s id o tam eb m usa sado para me fode der rem na europa jun to da bb cede de outros, pub l cia rei tam eb mao pr de se guida du as ca ra st q  ue iss o i lu s t ram, o u seja mais uma  v e zorro do os p asse 4 serpente do ps para me foder ema car reia



TC In 0:02:13



Voz of (narrador): " 2 de Abril de 1969. Depois de dois anos de guerra no Norte de Moçambique, o 9º Destacamento de Fuzileiros Especiais chegava a casa.

Para trás, ficava uma província ultramarina desde 1964 em luta pela autodeterminação contra o império de cinco séculos de Portugal em África. Durante 10 anos , milhares de jovens portugueses embarcaram para além-mar em nome da defesa da integridade nacional. E, algumas vezes ,na volta dos navios, com os militares vinham crianças capturadas nos palcos de guerra. Foi assim com os elementos do 9º Destacamento e foi assim com este menino. Chamava-se Xose e era de etnia Maconde como os mais temidos inimigos dos portugueses em terras de Moçambique. Depois chamaram-lhe Paulo Jorge.

Foi há quase trinta anos...



TC Out 0:03:17

Imagens de Arquivo: TC In 00:02:10:23

TC Out 00:02:16:14

TC In 00:02:27:24

TC Out 00:02:34:06

TC In 00:02:42:19

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Mapa: TC In 00:02:16:14

TC Out 00:02:23:05

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Jornal: TC In 00:02:23:05

TC Out 00:02:27:23

TC In 0:03:23:05 Título : À procura de Xose TC Out 0:03:27:18

TC In 0:03:37

Voz of (narrador):Os anos passaram e do menino que foi antes de chegar a Portugal , o Paulo tem pouca memória ou pouca vontade de contar. Como se tudo tivesse começado aqui, em Cascais , para onde , há trinta anos , o trouxeram. Mas há um homem que se lembra...


TC Out 0:03:56
TC In 0:03:56

TC In 0:04:03:05 Oráculo: Mário Cornélio – Ex Fuzileiro do 9º Destacamento TC Out: 0:04:06:05



Voz of (Mário Cornélio sentado à secretária a escrever): " Ana e Mário, vocês têm-se admirado muito de só terem dois avós, os pais da vossa mãe, e não terem os outros dois avós, os pais do vosso pai, como muitos meninos que vocês conhecem. Também nunca viram nenhuma fotografia dos pais do vosso pai..."

TC Out 0:04:12
TC In 0:04:12

TC In 0:04:14:00 Oráculo: Ana – Filha do Paulo TC Out 0:04:17:08

Ana (deitada na relva, no parque em Cascais): Quase a minha família toda é branca . Fazia confusão porque uns eram brancos e outros eram escuros.

TC Out 0:04:20

TC In 0:04:22

TC In 0:04:27:13 Oráculo: Cascais TC Out 0:04:30:24


Voz of (narrador): O silêncio do Paulo acerca das origens parece dar corpo a um mistério. Até porque não é homem de fazer segredo da sua vida. Nem do sonho de ser médico, que ficou reduzido a um trabalho de distribuição de materiais para fotocopiadoras, nem do orgulho pelos tempos em que foi notícia no hóquei em patins, nem da gratidão à sua mãe branca.


TC Out 0:04:42

TC In 0:04:45

TC In 0:04:46:02 Oráculo: Paulo Jorge Cornélio TC Out 0:04:48:23

Paulo Jorge (nas escadas da casa onde foi criado): Foi aqui nesta casa que uma pessoa que foi muito importante para mim, que foi a D. Capitolina me criou, me educou, ensinou-me a ser homem, ensinou-me a trabalhar e eu só posso definir essa pessoa com uma palavra que é mãe. Ficarei sempre grato a Deus por me ter dado esta mãe, que me fez o homem que sou agora.

TC Out 0:05:09

TC In 0:05:09

TC In 0:05:10:18 Oráculo: Amadeu Pinto – Mecânico de Patins TC Out 0:05:14:06

Amadeu Pinto (na sala do equipamento do Pavilhão Dramático de Cascais): A mãe do padrinho dele, era muito amiga dele, que eu sei. Tudo o que dava aos filhos dava-lhe a ele, era a mesma coisa, não havia ali distinções.

TC Out 0:05:19

TC In 0:05:26

Paulo Jorge (assiste a um jogo de hóquei no Pavilhão de Cascais): Como jogador fui sempre leal ao meu adversário, sempre joguei bastante duro, mas sempre com muita lealdade, nunca tentando magoar o outro porque no dia seguinte seria um dia de trabalho.

TC Out 0:05:40

Jornal: TC In 00:05:40:22

TC Out 00:05:48:01

TC In 00:05:53:01

TC Out 00:06:00:00

TC In 0:05:48

Voz of (narrador): Em 1979, tornou-se o 1º negro a integrar uma selecção nacional de hóquei. Um facto que espantou o mundo de desporto e deu ao homem que o viu crescer muitos motivos de orgulho.

TC Out 0:06:00
TC In 0:06:00

Mário Cornélio (com a Baía de Cascais ao fundo): Um deles foi ouvir da boca de um grande jogador de hóquei em patins português, que era o Velasco, dizer aqui no pavilhão de Cascais : "Venho eu da terra dos pretos (que ele era Laurentino) para ver um preto jogar hóquei em patins melhor do que brancos?"

TC Out 0:06:17

TC In 0:06:18:05 Oráculo: Pavilhão do Oliveirense TC Out 00:06:21:16

TC In 0:06:19

Voz of (narrador): Foi o que deve ter pensado o então presidente do clube de Oliveira de Az. Quando o viu jogar . A convite dele , o Paulo mudou-se para o norte de Portugal. Aqui conheceu a mulher com quem veio a casar e o racismo que nunca tinha sentido.

TC Out 0:06:34

TC In 0:06:35 (Paulo Jorge conversa com o ex Presidente do Clube do Oliveirense no Café Lusitano em Oliveira de Azeméis)

Paulo Jorge: Tenho gratas recordações aqui de Oliveira de Azeméis até ao momento em que comecei a namorar com a Isabel . Aí começaram a surgir grandes problemas .

TC In 0:06:48

TC In 0:06:49 Oráculo: Armando Martins- Ex Presidente do Oliveirense TC Out 0:06:52:21

Armando Martins –Mas problemas com a tua namorada ou com alguém em especial?

TC In 0:06:54

Paulo Jorge : - Problemas ...tipo... racismo.

TC In 0:06:59

Armando Martins: Racismo? Não acredito, as pessoas de Oliveira de Azeméis não são racistas.

TC Out 0:07:03


TC In 0:07:03

TC In 0:07:07:03 Oráculo: Rosa Maria – Amiga do Paulo TC Out 0:07:10

Rosa Maria (no quintal da sua casa):- O povo cá de Oliveira de Azeméis nunca aceitou a relação deles os dois . Por ele ser negro e ela ser branca. Os pais dela inclusive não foram ao casamento porque nunca aceitaram o namoro deles os dois. Arranjaram casinha aí , organizaram a vidinha deles, mas sentiram-se muito desprezados pelos pais da Ana Isabel, neste caso, e não só, mesmo pela população em geral ,e ele na altura sentiu que estava mesmo a ser desprezado pela família da Ana Isabel porque como ele era negro e eles nunca aceitaram isso.

Foram para Cascais tratar da vidinha deles porque a gente lhes deu força para isso pois também achava que também não era certo fazerem o que lhes estavam a fazer cá em cima , não é?

TC Out 0:07:46

Tc In 0:08:03

Ana (deitada na relva): Queria conhecer e nunca conheci a família do meu pai, que está longe daqui.

TC Out 0:08:07
TC In 0:08:08

Voz Of (Mário Cornélio sentado à secretária a escrever): Quando vocês perguntam ao vosso pai pela família dele e ele vos responde que sou eu e a minha irmã, em certa medida ele está certo , mas o melhor será eu contar-vos uma história ,a história do vosso pai.

TC Out 0:08:21
TC In 0:08:30

Voz Of (Mário Cornélio sentado à secretária a escrever): O Paulo nasceu na área do posto administrativo do Chai, circunscrição de Macomia , distrito de Cabo Delgado , província de Moçambique , junto da lagoa N`Guri , no Norte , perto do rio Messalo. Ele é de etnia Maconde e os seus pais eram o Sicala e a Buanadai.

Tem , ou tinha uma irmã chamada Apalimume. Chamava-se Xose e deve ter nascido por meados de 1962 porque ainda não tinha o rosto tatuado , nem os dentes afiados como manda a tradição do povo a quem pertence.

A vida do Xose esteve ligada à de Buanadai e à de Apalimume até à madrugada de 6 de Dezembro de 1967 , deveria ele ter uns cinco anos . Nesse dia tudo se alterou na vida de Xose.

Elementos do 9º Destacamento de Fuzileiros Especiais , de que eu fazia parte , assaltaram o acampamento e aprisionaram toda a gente que não conseguia fugir.

TC Out 0:09:38

Imagens de Arquivo : TC In 00:09:27:01

TC Out 00:09:46:17

TC In 00:09:51:15

TC Out 00:09:55:18
TC In 0:09:49

Voz Of (Mário Cornélio sentado à secretária a escrever): Uma mulher foi ferida e junto a ela estava um miúdo com uns olhos muito vivos e que repetia tudo o que nós dizíamos. A malta simpatizou logo com o miúdo. Finalmente quando o 9º Destacamento tinha encontrado a sua mascote e, fui eu o encarregado de cuidar dela.

TC Out 0:10:03

TC In 0:10:04

TC In 0:10:08:07 Oráculo: Santarém da Cruz – Ex Comandante do 9º Destacamento TC Out 0:10:13:00

Santarém da Cruz (numa sala do Museu da Escola de Fuzileiros):- Não permitia que no destacamento houvesse aquilo que nós chamávamos mascotes .Achávamos , ou achava , que a criança era demasiado importante como pessoa para ser uma mascote.

TC Out 0:10:16
TC In 0:10:19

Voz of (narrador): Apesar da oposição do comandante do destacamento, para Mário Cornélio estava em causa mais do que uma mascote.

TC Out – 0:10:25


TC In 0:10:27

Mário Cornélio ( com a Baía de Cascais ao fundo): Das últimas coisas que a minha mãe me escreveu acerca do meu pai, foi que o meu pai virou-se para a minha mãe e dizia assim: "Eu gostava que o Marinho trouxesse um macaquinho ".A minha mãe ficou a olhar para ele "um macaquinho?"

"Gostava que o Marinho trouxesse um menino pequenino ". "Mas para que é que tu querias um menino pequenino?" " Já não posso trabalhar, já não me posso levantar, olha, era mais um filho que eu educava".

Fiquei sempre a cismar naquela ideia... desde que eu apanhe um miúdo que seja um miúdo interessante, vai comigo e vai mesmo.

TC Out 0:10:59
TC In 0:10:59

TC In 0:11:00 Oráculo: Buananguja - Avó do Paulo TC Out 0:11:04

Buananguja: O Paulo foi a primeira pessoa que vi quando cheguei ao Chai com os outros prisioneiros. Ele, quando me viu, chorava muito.
Legenda:

TC In 0:11:00:04

O Paulo foi a primeira pessoa que vi quando cheguei ao Chai com os outros prisioneiros.

TC In 00:11:04:00

Ele, quando me viu, chorava muito.

TC Out 0:11:06
TC In 0:11:07

TC In 0:11:09:04 Oráculo: Jorge Yiessa – Tio do Paulo TC Out 0:11:12:17

Jorge Yiessa: A avó ainda foi pedir aos soldados que devolvessem o Paulo, mas eles recusaram. Ela pediu ajuda ao régulo, mas ele também não conseguiu recuperá-lo.

Legenda:

TC In 0:11:14:20

- A avó ainda foi pedir aos soldados que devolvessem o Paulo, mas eles recusaram.

TC In 00:11:20:12

Ela pediu ajuda ao régulo, mas ele também não conseguiu recuperá-lo.

TC Out 0:11:25

TC In 0:11:39

Santarém da Cruz (numa sala do Museu da Escola de Fuzileiros): Nós tínhamos uma preocupação que era o ir para combate, o vir ou não vir, por isso o Paulo Jorge veio-nos dar uma outra responsabilidade. Era alguém que na vida do quartel, na vida civil nos preocupava, mas tinha em atenção, que nos despreocupava das acções de guerra, ou seja, que não nos fazia pensar no dia-a-dia, o que seria a vida de combate, a vida do Ultramar, a vida daquela guerra, mas trazia-nos uma vida mais civilista. O Paulo Jorge para mim foi um factor de humanização.

TC Out 0:12:12
TC In 0:12:13

TC In 0:12:18:02 Oráculo: Manuel João Tátá – ex Fuzileiro do 9º Destacamento TC Out 0:12:21:13

Manuel João Tátá (no parque da cidade onde vive): Ao tentar procurar vingança, também nos lembrávamos que tínhamos ali um da mesma cor, e a gente também não ia fazer aos outros aquilo que também não queria que fizessem ao Paulo Jorge.

TC Out 0:12:25
TC In 0:12:25

TC In 0:12:26:00 Oráculo: João Miguel Grilo – ex Fuzileiro do 9º Destacamento TC Out 0:12:28:24

João Miguel Grilo (no jardim perto da sua casa): Ainda hoje gosto do miúdo. Se ele hoje precisasse e viesse ter à minha porta eu ajudava-o. Se tivesse um pão dava-lhe metade. É um amigo como todos fomos. É mais um elemento do destacamento.

TCOut0:12:40
TC In 0:12:46

TC In 0:12:47:11 Oráculo: Mitilage Jamal TC Out 0:12:50:11

Mitilage Jamal (no Pakitekete, bairro em Pemba, Moçambique): Ele tinha sorte, porque outros miúdos, outras crianças que eles às vezes apanhavam, matavam. Esse teve sorte. Teve sorte, teve sorte. Eles estimavam-no muito, andava sempre no colo deles "É o nosso filho, apanhámos no mato".

TC Out 0:13:05
TC In 0:14:05:00 Oráculo: Pemba TC Out 0:14:07:14

TC In 0:14:08

Voz Of (Mário Cornélio sentado à secretária a escrever): Com o tempo trocamo-lhe o nome e passamos a chamar-lhe Paulo Jorge, o nome de um cantor que apareceu lá por Porto Amélia, onde tínhamos a nossa base.

TC Out 0:14:15
TC In 0:14:17:02 Oráculo: Pakitekete TC Out 0:14:20:01
TC In 0:14:23

Voz Of (narrador): No coração de Porto Amélia, actualmente chamada Pemba, fica o Pakitekete, um bairro onde a guerra mostrou a sua outra face, que os mais velhos não deixam esquecer.


TC Out 0:14:34
TC In 0:14:39

Mário Cornélio : O Pakitekete era a nossa válvula de escape, havia outros que iam para outros bairros mas eu passava mais tempo no Pakitekete do que na cidade.

TC Out 0:14:52
TC In 0:14:53

Mitilage Jamal (sentado no exterior da sua casa no Pakitekete): Eles quando vinham do mato, vinham directamente aqui ao bairro descansar. O descansar deles era só vir bater, eu não sei o que é que se passava lá no mato quando eles voltavam para cá. Encontravam-nos sentados na varanda com as nossa esposas a descansar, eles passavam e perguntavam "Vocês não vão para dentro dormir?", "Dormir? Estamos na nossa casa a descansar." Eles começavam a agarrar as nossas mulheres e chamavam "Ó Maria". A gente dizia: "Essa é a minha esposa..." Pronto, era logo cinto e começavam a bater, como nós não tínhamos voz activa, eles batiam, batiam, batiam, ou a gente fugia ou então agarravam a mulher e faziam sexo à força, com a gente a ver; a gente não tinha nada a dizer.

TC Out 0:15:49

TC In 0:15:50

Mário Cornélio: Intercâmbio Luso-Cultural.

O que um homem vai fazer a um sítio onde houver mulheres?

TC Out 0:15:57
TC In 00:16:04


Mulher 1 (no Pakitekete): Cinto....

TC Out 00:16:05
TC In 0:16:07

Mulher 2(no Pakitekete): Fuzileiro fazer mal aqui. Nós dormir na água, ali. Fugir fuzileiro. Ter medo....aqui."

TC Out 0:16:19
TC In 0:16:20

Mitilage Jamal: Perdoar? Podemos perdoar, porque não perdoar? A gente nunca pode ter um rancor. Temos recebido orientação da FRELIMO, que nunca se pode ter rancor por uma pessoa. O que se passou passou, o que se passou passou.

TC Out 0:16:44
TC In 0:17:11

Voz Of (Mário Cornélio): À medida que o tempo passava decidi que traria o Paulo para Portugal.

TC Out 0:17:15


Imagens de Arquivo: TC In 00:17:32:13

TC Out 00:17:45:20

TC In 00:17:48:11

TC Out 00:17:54:10

TC In 0:17:38

Voz Of (narrador): Perto do fim da comissão em Moçambique, a 17 de Janeiro de 1969, na estrada que liga Macomia ao Chai, uma emboscada tirou a vida a 2 fuzileiros. Ao dar pela sua falta, o Paulo não conteve o desespero. E, naquele dia, as lágrimas de uma criança foram mais fortes do que a vontade de vingança de todo um destacamento.

TC Out 0:18:03
TC In 0:18:03

Mário Cornélio: Se nós não tivéssemos o Paulo Jorge connosco, nós aqueles negros que apanhássemos a partir daquelas mortes, nós tinhamo-los limpo, tinhamo-los cortado; e não os cortámos pela atitude do Paulo Jorge. Mostrou-nos a nós que saber perdoar também é uma grande virtude. E deu-nos uma lição, mas uma senhora lição... A fraternidade é muito importante.

TC Out 0:18:27
TC In 0:18:31

Voz Of (Mário Cornélio à secretária terminando a carta): Ana e Mário quando olho para vocês lembro-me daquele tempo em que o Xose veio para junto de mim lá nos sertões moçambicanos e junto a mim começou a fazer-se homem. Espero que vocês tenham orgulho nele como pai, que eu tenho orgulho em ser padrinho dele. Mário Cornélio.

TC Out 0:18:48
TC In 0:18:56

Voz of (narrador): Este podia ter sido o fim da história. Mas para a Isabel, esta carta seria apenas o princípio de um longo caminho, junto com a Cruz Vermelha de Portugal e Moçambique, à procura de Xose.


TC Out 0:19:08
TC In 0:19:09

TC In 0:19:15:16 Oráculo: Isabel Cornélio – Mulher do Paulo TC Out 0:19:18:15

Isabel (em Cascais): Ele para ter uma mágoa é porque ainda continuava a pensar todos os dias na família, não é? Por isso é que eu senti e sinto que ele está triste, está muito magoado. Agora explicar o que ele sente é difícil. A gente olha para ele e sabe que ele está muito magoado, eu acho que ele tem uma ferida tão grande, tão grande que não consegue curar.

TC Out 0:19:30
TC In 0:19:32

Voz Of (narrador): Um longo caminho até ao reencontro de um homem com o país onde nasceu e o que resta da sua família, mais de 30 anos depois da separação. O sonho de uma vida inteira.

TC Out 0:19:44
TC In 0:20:03 Oráculo: Litamanda, Chai TC Out 0:20:07:04
TC In 0:21:41

Voz Of (narrador) : É aqui, em Litamanda, uma aldeia a 4 Km do Chai, que os antepassados do Paulo estão sepultados. E para Buananguja Nilikele, a avó, a primeira coisa a ser feita era dizer à filha, Buanadai que tinham encontrado o Xose.

TC Out 0:21:55
TC In 0:21:56

Oração da Avó (no cemitério da família) : Buanadai, o teu filho que há tanto procurávamos está hoje nas minhas mãos. Estamos muito contentes por ter encontrado Xose, o nosso perdido. Pedimos-te a ti, Buanadai, e a tantos outros que já morreram, que o mesmo espírito de felicidade que está hoje entre nós acompanhe sempre o nosso filho.

Legenda:

TC In 0:21:58:03

Buanadai, o teu filho que há tanto procurávamos está hoje nas minhas mãos.

TC In 00:22:04:14

Estamos muito contentes por ter encontrado Xose, o nosso perdido.

TC In 00:22:09:24

Pedimos-te a ti Buanadai, e a tantos outros que já morreram

TC In 00:22:15:19

que o mesmo espírito de felicidade que está hoje entre nós

TC In 00:22:21:20

acompanhe sempre o nosso filho.

TC Out 0:22:26
TC In 0:22:27

Paulo Jorge: Tirarem uma criança em tenra idade a uma mãe, acho que isso é um crime.

TC Out 0:22:33

TC In 0:22:34

TC In 0:22:34 Oráculo: Apalimume – Irmã do Paulo TC Out 0:22:37

Apalimume: Ele não teria sido feliz aqui. A nossa vida é muito dura.

Legenda:

TC In 0:22:34:07

- Ele não teria sido feliz aqui. A nossa vida é muito dura.

TC Out 0:22:37

TC In 0:22:38

TC In 0:22:37 Oráculo: Nivalombwa Manuel – Prima do Paulo TC Out 0:22:42

Nivalombwa Manuel: O meu primo foi bem tratado. Se eu pudesse, gostava de retribuir ao homem que o levou e tomou conta dele.

Legenda:

TC In 00:22:39:18

O meu primo foi bem tratado. Se eu pudesse, gostava de retribuir ao homem

TC In 00:22:45:20

que o levou e tomou conta dele.

TC Out 00:22:50
TC In 00:22:51

TC In 00:22:51 Oráculo: Júlio Linhamo – Tio-Avô do Paulo TC Out 0:22:55

Júlio Linhamo (Tio-Avô do Paulo): Nunca perdoarei aos portugueses não terem dito para onde levaram o Paulo, e se estava morto ou vivo.

Legenda:

TC In 00:22:53:11

Nunca perdoarei aos portugueses não terem dito para onde levaram o Paulo,

TC In 00:22:58:15

e se estava morto ou vivo.

TC Out 00:23:04
TC In 00:23:04

Buananguja: Só Deus sabe se o Paulo teria sido mais feliz connosco.

Legenda:

TC In 00:23:04:15

- Só Deus sabe se o Paulo teria sido mais feliz connosco.

TC Out 00:23:08
TC In 00:23:13


Voz Of (narrador): Respondendo ao chamamento da avó, o Espírito de Alegria contagiou toda a aldeia. Num fim de tarde, vindo de um lugar desconhecido para as mulheres, apareceu o Mapiko, o bailarino mascarado, figura central das cerimónias de iniciação masculinas e guardião dos segredos dos homens. Um rito de passagem do Paulo ao mundo dos Macondes.

Out 00:23:34
TC In 00:24:18

Voz Of (narrador): Entre a sua família, o Paulo descobriu um irmão mais novo, nascido depois de os fuzileiros o terem levado da aldeia. Crisanto é pescador na Lagoa N’Guri.

TC Out 0:24:28
TC In 0:25:12

Paulo Jorge (junto à fogueira despede-se da irmã): A minha despedida vai ser até à vista, porque vou fazer todos os possíveis para cá vir. Os meus dois filhos e a minha mulher hão-de estar aqui nesta aldeia.

TC Out 0:25:25

TC In 0:25:37

Voz Off (narrador): O Xose Sicala nasceu na área do Chai, circunscrição de Macomia, distrito de Cabo Delgado, junto à Lagoa N’Guri, no Norte, perto do Rio Messalo.... em terra de Macondes."

TC Out 0:25:49

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